ARTIGO: SAUDADES DO MEU BARBEIRO


Por Paulo Machado

Há determinadas profissões, das quais dependemos por necessidade e por arraigados hábitos, que deveriam ser declaradas em documento público, e firma registrada e reconhecida em cartório, que elas são únicas e jamais podem ser substituídas. Quem sabe um contrato com apenas dois artigos: o das obrigações, a exemplo de “ficam obrigadas as partes a manterem um vinculo perene de fidelidade”. E o dos direitos, que poderia ser mais ou menos assim: “têm as partes o direito de estarem juntos uma ou duas vezes por semana, mesmo que isto signifique investimento em viagens e coisa e tal”...

Estou-me referindo aqui, prioritariamente, à profissão de barbeiro. Barbeiro é alguém estritamente pessoal, e não pode ser trocado por nenhum outro, pois cada vez que isto acontece nos sentimos incomodados, passamos a cada minuto a mão no rosto, e pensamos ou dizemos alto: “meu barbeiro não me deixaria tão incomodado e insatisfeito”. E começamos o exercício comum a todos os mortais, de estar fazendo comparações por mais que, como dizem os franceses “toute comparaison est odieuse”. Não há como não resmungar, dizendo que “o meu barbeiro já sabe que não pode passar a Gillette contra, mas sempre a favor... meu barbeiro faz isto de forma tranqüila e suave, e este quase me arranca o couro” e outras lamentações mais.

Estou aqui me referindo especialmente ao Beto, meu barbeiro há anos, que tem o seu salão descendo a Praça da Feira, quase vizinho ao Restaurante da Graça. Salão que tem o nome de “Dois irmãos” e que, certas horas, tem cinco ou seis na fila de espera. Meu amigo Beto, que se desmancha em mesuras, que me presenteou no natal passado com um belo conjunto da Boticário e que está sempre querendo saber se vou bem. Paciente, se esforça para fazer seu ótimo trabalho, enquanto tiro o sono atrasado, muitas vezes. Beto, meu barbeiro, conhece as manhas do meu rosto, os cabelinhos teimosos que o obrigam a tentar retirá-los duas, três vezes. E que sempre termina a barba borrifando os meus cabelos, para diminuir o incômodo calor da tarde ou da manhã ensolarada, com uma água fria e abençoada, e dizendo: deixe-me raspar este pé de cabelo ´para você se sentir melhor.

Beto, meu barbeiro, confirmo seu valor e sua importância em minhas andanças pelo mundo e pelo Brasil afora. No exterior, barbeiros canadenses e marroquinos; no Brasil, eixo Rio São Paulo e outros estados; na Primacap, por onde transito, com o devido respeito aos profissionais ali encontrados, nenhuma cadeira de barbeiro despertou em mim o sentimento de ter experimentado a arte do barbear. A cada vez que saia das barbearias, olhar e coração se voltavam para Senhor do Bonfim e sempre conclui a faina de ser barbeado, com a significativa expressão: “Beto, saudades de meu barbeiro...”

Paulo Machado
Senhor do Bonfim, 6 de fevereiro de 2015
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