ARTIGO: A VELHINHA ROMÂNTICA E AGRADÁVEL DO METRÔ MONT-ROYAL


Gosto da estação de metrô Mont-Royal. Não é obrigatoriamente meu ponto de locomoção diária, embora esteja no chamado Plateau ou Centro da Cidade. Chama-me a atenção o seu movimento incessante, a mistura de quebequenses e imigrantes, mas sobretudo a forte presença de imigrantes vindos de todas as partes do globo. Os seus acessos e alas parecem uma grande sala de estar onde se misturam passos, risos, falas, vestimentas diferenciadas, e o mundo se torna pequeno. Esta estação, sem dúvida, é a mais replublicana e democrátrica desta grande cidade.

Esta semana tive a oportunidade de viver um bom momento, desses que ninguém planeja mas deixam a gente assim com uma sensação de felicidade, felicidade que vem e é usufruida inesperada e graciosamente.

Já me dirigia às escadas que dão acesso à plataforma que me convinha, quando a dez metros atrás de mim, uma velhinha, vestida de preto, andando lentamente e com dificuldade começou a cantar uma bela música que falava de lago, jardim, primavera... A letra e a alegria da canção destoavam sem dúvida da neve e do frio que campeavam lá fora. Sua voz era muito bonita e seus olhos brilhavam em seu rosto bochechudo. Incentivei-a dizendo que cantava bem, e que a canção era bela. Ela sorriu, repetiu alguns versos e emendou, em um francês pesado e quebequense: “Canto desde pequena... Você conhece esta música? É de Renée Martel, cantora do Québec”. A um só tempo conheci uma bela música local e fui informado da existência de Renée Martel. Vejo pela internet que esta cantora tem uma longa trajetória artística e é uma cantora Country da Província. Tenho ouvido algumas de suas músicas, em sua voz firme e bela.

Não posso assim agradecer à velhinha gorduchinha da estação de metrô Mont-Royal, que embarcou na mesma classe de trem que a minha, sentou-se não muito longe, riu npara mim umas duas vezes, cantarolou de novo a bela canção. E ainda pude ver a sua mão bem alva, baloiçando em adeus, ao desembarcar antes dela.


Fatos como este, em um país estranho, nos acenam para a certeza de que o ser humano tem um substrato comum que nos torna próximos e irmãos, por mais nos distanciem a língua, os interesses, a cultura. A velhinha admiradora da cantora country Renée Martel, talvez nunca mais eu a veja. Mas levarei sempre comigo a bela reflexão e lembrança que ela despertou em mim.


Paulo Machado
Montreal, Quebec, 07-03-2014
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