ESTÁ FALTANDO ALGUÉM EM TANQUINHO DE FEIRA...


Antonio de Pádua Cirne Pereira: um nome bonito, com matizes que se aproximam dos clássicos nomes da historiografia real lusitana. Um homem simples, cordial, afável, que fez do seu posto e lanchonete, em Tanquinho de Feira, o lar acolhedor e restaurador de quantos de nós nos dirigíamos sobretudo à capital do estado. Conhecia prefeitos, vereadores, homens ricos e pobres, que de diversas cidades do nosso interior, faziam questão de tornar o seu comércio um ponto de apoio, e que o conheciam e por ele nutriam um carinho todo especial.

Uma vez o encontrara abatido pelo fato de terem furtado a sua velha camionete, com a qual se deslocava sempre a Feira de Santana: “não é nem pelo prejuízo financeiro, me dizia ele, mas pelo que ele, o carro, representava para mim, em minhas idas e vindas”. Foi assaltado, e cuidando mais de sua vida, passou a fechar o seu e nosso refúgio assim que o dia escurecia. Os garçons que ali trabalhavam falavam dele com carinho, e ali estava uma segunda família, que ele construíra e ajudava a manter dia após dia, de sol a sol, de chuva a chuva.

Lembro-me de quando levei ao meu amigo “Seu” Antonio um pequeno adesivo marrom e amarelo com o escrito “Sou mais Machado”: colocou no vidro da janela, pelo lado de fora, pelo fundo da lanchonete, para evitar que alguém o subtraísse. E colocou mais um no armário de vidro das peças de manutenção mecânica que mantinha em um recanto de sua lanchonete. Orgulhoso, sempre me mostrava o adesivo, ali afixado havia anos!

Quem estava acostumado a um bom dedo de prosa, a vê-lo em uma mesa ou no banco de espera, sempre tendo algo para comentar, entristeceu-se ao saber que no último dia 29 de junho, um sábado, ele nos deixou. Apesar de esforços médicos, marcou encontro naquele dia com o Pai Celeste, e.como diz o mote popular, “viajou fora do combinado”.

Hoje, sua lanchonete tem ares de modernidade, está totalmente reformada, bonita, e brilha como brilharam os seus 76 anos de vida. Mas, sinceramente, preferiria reencontrá-lo no cantinho de sempre, em sua rústica lanchonete, onde aprendemos com ele que a geografia da Bahia é bem maior e mais afetiva que os quilômetros de asfalto que a Tanquinho conduziam.

Descanse em paz, grande Antônio de Pádua Cirne Pereira! Cada vez que passarmos por Tanquinho de Feira, uma saudade dorida se apossará de nossos corações. Olhos fechados, diremos a cada vez: “Obrigado, meu amigo hospedeiro, coração de anjo, enviado de Deus! O Senhor o acolha com a mesma diligência com que sempre nos acolhia. Descanse em Paz!”


ASCOM de Paulo Machado
Senhor do Bonfim, 7 de julho de 2013.
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