PARABÉNS MINHA CIDADE


Nascemos em Senhor do Bonfim, eu e mais três irmãos, todos filhos do poeta, trovador, escritor, militar e educador Antônio de Carvalho Melo, que foi acolhido como filho aqui nesse pequeno paraíso.
Razões não nos faltam para sinceramente amarmos a nossa terra.

Foi Senhor do Bonfim quem nos deu a régua e o compasso da vida.

De lá, com as convicções próprias dos filhos de famílias do interior baiano que partem para a luta, sonhamos o sonho dos que deixam a sua terra natal.

Parti deixando para traz as amizades da infância e a liberdade que o chão fértil da amada terra nos oferece.

Sentia saudades das serras, das aguas cristalinas do rio Itapicuru, das deliciosas mangas da catinguinha, do cheiro do povo de roça, do corre corre nos trilhos de trem que passavam nos pontilhões, o apito do trem na estação, o sino da igreja e o grande alvoroço nos dias de feira.

Quanto sofri com a seca que tanto afligiu o nosso povo, e quanto me alegrei com as últimas e abençoadas chuvas.

Vou voltar, meu coração se entusiasma.

Lamentavelmente não tenho a mesma competência poética do saudoso A. de Carvalho Melo que tantas vezes cantou em versos o sentimento do seu coração como na belíssima obra de arte, choveu no sertão.

“Que beleza meu Deus,/ choveu no sertão! / As águas que vinham rolando das serras,/ Tão grossas desciam que encheram os açudes.../ Como está lindo o sertão! / A chuva constante, caindo na terra,/ Revela que tudo mudou de feição./ A terra molhada é uma viva promessa / De que muito em breve teremos fartura / feijão de corda, maxixe, / carne gorda e requeijão...”.

Tenham certeza que se tivesse, não economizaria emoções para chorar toda saudade que tenho da minha terra.

A minha saudade se manifesta mesmo quando estou circulando por aqui. É uma saudade estranha, uma saudade de profundas raízes que busca ressuscitar o passado e vivê-lo no presente.

Sinto saudades do tempo e das pessoas daquele tempo. Parece que tudo era diferente.

Nessas ocasiões de profunda melancolia, busco abrigo em Casimiro de Abreu, o discípulo de Gonçalves Dias que escreveu quando esteve em Portugal, uma série de poemas impregnados de nostalgia da terra natal denominados canções do exílio.

“Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!”


Hoje, quando a nossa cidade comemora 128 anos, dedico esta página a tantos bonfinenses que, com eu, ainda sentem saudades e até tentam encontrar razões para transforma-las em ação, mas são impedidos, pois se sentem exilados por limites éticos e morais que muitos conhecem ou deveriam conhecer porem relutam para atenderem a interesses escondidos em sigilos ilícitos.

E enquanto as coisas não mudam, sentir saudades, mesmo estando aqui, ainda é o motivo que nos resta.

Feliz aniversário Senhor do Bonfim.

Deraldo de Carvalho Melo
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