ALTO DA MARAVILHA EM PROCESSO DE RECONHECIMENTO COMO COMUNIDADE QUILOMBOLA: SOFRE PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÕES

Brasil, quando aqui, era colônia, a metrópole portuguesa promoveu seu modelo administrativo diferente do contexto da América espanhola. Era concentrada a adiministração por uma elite de nobres da corte, vinda deste país do leste europeu. Alguns historiadores concordam em que foi criando ao mesmo tempo as elites locais, que eram descendentes de portugueses e que de fato eram brasileiros, a partir deste momento histórico, passam a entrar em conflitos com os interesses da metrópole, esta já não atendia mais aos interesses da burguesia local que enriquecia e promoviam essas “revoluções” ou revoltas que nós estudamos na fase que compreende até o nível médio. Nada mais era que a busca de espaços, por poder e interesses pessoais destas elites burguesas enriquecidas com o falso sentimento de nacionalidade.

Brasil Império, o único país das Américas, a constituir modelo de governo imperial, de acordo com o historiador Boris Fausto, é justamente pela vinda da família imperial portuguesa para o Brasil, vinda da metrópole fugida das guerras napoleônicas, que avançava em seus territórios.

Primeiro reinado, D. Pedro I, 1824, primeira constituição do Brasil império, foi redigida de cima para baixo, isso quer dizer que, foi realizada de forma autoritária, o imperador mandou literalmente os deputados legisladores para casa de acordo com o autor citado.

Segundo reinado, o império do Brasil era governado por regências, mas as elites burguesas não estavam satisfeitas com este modelo de governo descentralizado, o que aconteceu foi segundo Fausto, emanciparam D. Pedro II, que na época só tinha 14 anos de idade, foi o período imperial mais longo, durou 40 anos.

Brasil independente de Portugal, foi neste recorte histórico que nosso país, contraiu a primeira dívida externa, tendo de pedir empréstimo a Inglaterra que a época era maior potência econômica e única industrial, para contrair esta dívida pagar a sua “liberdade” a Portugal. O sentimento de nacionalidade surge com a independência, que não foi bem assim, como está pintado no quadro de Pedro Américo, o famoso, O grito do Ipiranga. Focos de resistência portuguesa como, por exemplo, na Bahia em que quase um ano depois, no Recôncavo uma guerra sangrenta expulsa os últimos portugueses que resistiam.

A construção dos ideais republicanos brasileiros, trazidas dos estudantes de direito, filhos das elites burguesas dominantes, que iam se educar na Europa, mais precisamente na Universidade de Coimbra, em terras portuguesas, com a ideologia de ser naturalmente a classe da construção de ideais de dominação dos demais habitantes desta terra. Não contemplava em seus objetivos ambiciosos de poder, das elites dominantes: indígenas, negros ou até mesmo mestiços, em suas implícitas e bem orquestradas ideologias de se perpetuarem no poder.

Onde suas bases são fundadas e bem construídas com a mão escrava, das torturas e mortes, onde jorrou muito sangue negro e dos nativos indígenas que resistiram de forma violenta ao domínio homem branco colonizador. Do trabalho compulsório, com a perversidade do enriquecimento pela exploração de seres escravizados. Silvino Silva vê problemas como foi vendido na história oficial. O 13 de maio, a famosa lei Áurea, não foi uma dádiva e muito menos bondade somente, foi na verdade, o ultimo suspiro de um sistema falido e acrescenta o que houve foi transposição, o negro saiu da senzala e foi parar nas favelas das grandes cidades brasileiras.

O modelo republicano brasileiro exclui desde a sua origem, na essência qualquer projeto liberal capitalista burguês, a inclusão das massas ou do povo brasileiro como já foi exposto, de seus projetos audaciosos, que exclui a população das classes baixas, deste processo da formação ideológica do que chamamos de construção do modelo republicano de nação. Em conseqüência de privilégios, que constroem suas bases no modelo extremamente perverso e excludente, que empurra o povo para o abismo da falta de oportunidades, do analfabetismo e da miséria absoluta. De uma minoria, no exercício de poder, alienando totalmente as classes sem quaisquer perspectivas de construir uma nação fraterna e soberana com a participação popular, mas sim, o modelo adotado pelas elites dominantes, é o modelo da perversidade, da total exclusão das classes empobrecidas, exploradas e marginalizadas.

Classes pobres classes perigosas, foi construído neste país, a ideologia da burguesia nacional, em criminalizar o povo desta nação, os escravizados de outrora, passam a serem os vadios que sem emprego, passam a vagar pelas ruas das grandes cidades criando verdadeiro incômodo para as classes dominantes da época. Em 1850, cria-se a nova lei de terras, capitanias hereditárias, sesmarias e por fim a fragmentação desta última. Passa a oficializar as injustiças com a aquisição de grandes porções de terras a venda, fazendo uma leitura de busca na literatura de acordo com Rousseau as injustiças primárias surgem com a propriedade privada, onde os homens, com os privilégios da aquisição da terra, passam definitivamente a se diferenciar uns dos outros e o anarquista francês Pierre Josep Proudhon, vai mais longe perguntaram qual a sua opinião sobre esta questão e ele opinou “a propriedade privada é um roubo” disse o anarquista convicto.

Como este país fundado na servidão, no trabalho forçado, que a massa trabalhadora é escrava ou descendentes, podiam adquirir terras se não possuíam vida própria, muito menos capital, não eram considerados seres humanos, mas sim como verdadeiras mercadorias, que davam bons lucros a seus senhores, donos da casa grande, para tanto, desde sempre se criam leis apenas para beneficiar determinadas classes sociais, que sabemos perfeitamente quem são.

A democracia do Estado brasileiro na sua formação, ou melhor, sua essência, tratou sua população, sem assistência do Estado, das necessidades básicas como verdadeiros marginais, tratados em suas reivindicações, suas revoltas sempre como caso de polícia. José Saramago diz que não há democracia de fato, porque as populações se limitam a votarem e nada mais e justifica sua afirmação, servem apenas para tirarem do poder governantes que acham que é ruim e colocam outro que venham a imaginar que poderá ser bom, apenas isto. As decisões são tomadas em outra esfera, que sabemos qual é, os que tem poder de tomar decisões que afetam diretamente as nossas vidas, como por exemplo, os dirigentes de grandes conglomerados transnacionais empresariais e completa o autor da frase, estes empreendedores não são nada democráticos, as populações não têm participação nem voz nestas decisões, que são tomadas em outra esfera de poder, acrescentando o grande escritor, o Estado, as instituições governamentais e os poderes constituídos estão a serviço desses capitalistas internacionais.

Deixem que eu fale o que penso desta vida, preciso desabafar, sufoquei por muito tempo meus sentimentos, agora eu preciso e quero desabafar, refrão de música que no momento não me recordo da autoria, precisamos falar das nossas inquietações, do que nos incomoda as injustiças crônicas que permeiam em nosso país e que devemos nos calar em hipótese alguma, temos é que levantar a nossa voz, nos fazer ser ouvidos em qualquer circunstância das injustiças que são cometidas pelos “donos do poder”.

Os moradores do bairro do Alto da Maravilha, que está em processo de reconhecimento como comunidades remanescentes de quilombos. Esta população levanta sua voz e quer ser ouvida e não aceita mais quaisquer formas de discriminação, maneiras de preconceitos velados ou não, que este grande bairro bonfinense vem sofrendo desde a sua fundação. Os moradores desta grande comunidade são tratados de maneira desumana, por parte das instituições constituídas, com visão distorcida por ignorância ou por maldade, carregada de preconceitos, a respeito desta população discriminada que se sente abandonada pelo poder público, relatos de passos, que são desrespeitadas por médico, que atende no pasto de saúde desta comunidade, por se tratar de pessoas simples, este profissional de saúde lhes oferece tratamento desumano. “Seria uma atitude muito ingênua, esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação, que permitisse que as classes dominadas percebessem as injustiças sociais de forma crítica” frases do grande educador brasileiro Paulo Freire, não se enganem, é com este modelo educacional que deseduca e aliena esta é a denúncia do autor, ele está falando da educação pública que não cria nas pessoas consciência crítica, visão de mundo e que forma filhos de operários para serem também operários como seus pais.

A associação dos moradores do Bairro, não cumpre o seu papel de promover ações efetivas, que facilite e melhores as condições de vida dos moradores do bairro, sendo omissos em inúmeros casos. Que não sirvam os integrantes desta instituição de caráter social, apenas como cabos eleitorais, para políticos oportunistas, que de formas desonesta só aparecem em períodos eleitorais, com apenas a finalidade de buscar votos, dos que fazem da política, profissão, de buscar seus privilégios e fazer do povo massa de manobra e tratando como gado, para atender seus interesses pessoais, é com a falta de consciência crítica da população que os políticos desonestos contam. Mais de 100 anos após a “libertação da escravidão” tentam escravizar o povo de outra forma e isso serve para esta comunidade, dando-lhes educação de péssima qualidade, onde as pessoas têm dificuldade de entender o contexto de dominação fica terreno fértil para os profissionais da política e seus cabos eleitorais atuarem com destreza e oportunismo que é característico dos compradores de votos.

Não poderia terminar este curto texto sem falar do maior problema do caos do abastecimento da água para a nossa própria sobrevivência, em especial do problema aqui no Alto da Maravilha, é inadmissível que este problema ainda aconteça em nossa cidade. Políticos totalmente descompromissados com a população, falacianos e com problemas graves de desvios de condutas por parte desses gestores desta triste cidade abandonada.

Aqui neste bairro citado neste texto, falta de água não é nenhuma novidade, moradores são testemunhas do que estamos falando, é a questão do preconceito que o resto da população dispensa a estes moradores que em grande maioria constituídos de pessoas honestas e trabalhadoras. Refiro-me das formas de discriminação que sofremos por onde andamos pela cidade e quando dizemos que somos moradores do Alto. Sei que o caso do abastecimento é grave, mas há muito tempo somos vítimas de racionamento, que discrimina na hora de fornecer o líquido tão precioso para a nossa sobrevivência, a famigerada manobra.
“Que a crença em Deus, criador, ordenador, juiz, senhor, amaldiçoador, salvador e bem feitor do mundo, tenha se conservado no povo, e, sobretudo nas populações rurais, muito mais do que no proletariado das cidades, nada mais natural. O povo, infelizmente, é ainda muito ignorante e mantido na ignorância, pelos esforços sistemáticos de todos os governos que consideram isso, com muita razão, como uma das considerações essenciais, de seu próprio poder” Mikhail Bakunin, anarquista russo, ele trata do poder de manipulação que a elite intelectualizada cominada com as elites capitalistas burguesas, tem de alienar o povo pela forma de ignorar as questões viscerais que afligem as populações desassistidas, fragilizadas com a desumana forma de dominação e poder.

O verdadeiro terrorismo é praticado pelos grandes empreendimentos transnacionais, estes sim, em sua voraz desfaçatez em dilapidar, dilacerar aos países considerados emergentes, de forma predatória, porque são estes empreendedores capitalistas burgueses, que decidem quem vai comer e quem vai passar fome, quem vai beber e quem fatalmente morrerá de sede e espalham a miséria como praga pelo mundo, segundo Milton Santos, em seu discurso na universidade de Campinas em 1994.

Para concluir o meu raciocínio, temos que tomar as rédeas do nosso destino em nossas mãos e não aceitarmos ser tratados com desprezo de quem deveria cuidar dessa gente seja de instituições que prestam desserviços, dos políticos e de setores da cidade que se acham superiores a este bairro tão sofrido por formas discriminatórias. Precisamos nos unir para exigirmos respeito de quem quer que seja e não aceitarmos este estado de coisas. “A miséria só não acaba por que dá lucro” Arnaldo Jabor, esta frase se aplica a nossa situação deprimente, humilhante e depreciativa do ser humano, com tanto desrespeito e curiosamente.

As classes políticas não se incomodam e muito menos se manifestam até parece que está tudo bem, deve realmente está em suas concepções, precisamos de manifestos populares contra esta situação de desespero dos moradores desta cidade abandonada sem rédeas, sem justiça ou direção definida de seus objetivos e sem governo. Com o reconhecimento desta comunidade em remanescentes de quilombos, acreditamos que ações de cidadania e reparação serão implantadas aos moldes cooperativistas que é a essência de comunidades carentes. É o que esperam os moradores deste grande bairro da cidade de Senhor do Bonfim, na luta incansável contra qualquer modo de preconceitos e por uma sociedade mais justa e fraterna.


Por Edivaldo Ferreira de Oliveira - Ny do Alto
Postagem Anterior Próxima Postagem

PUBLICIDADE