DESABAFO DE UMA MÃE E PROFESSORA EM RELAÇÃO A VIOLÊNCIA DESENFREADA EM BONFIM


Olá Netto,

Houve um tempo que eu estava em Salvador, Feira, Petrolina, etc e ansiava em voltar para minha cidade a fim de poder andar tranquilamente pelas ruas a qualquer hora do dia ou até da noite. Hoje, não acontece mais isto. As angústias são as mesmas em qualquer lugar.

Na última quinta-feira (12/04), por volta de 11h10min, meu filho de 16 anos, voltava da escola pela Avenida Salvador, quando percebeu que estava sendo seguido. Aumentou o passo e mudou para outra calçada, mas não adiantou; recebeu um chute nas costas, uma “gravata”, foi derrubado e “solicitado” a entregar o celular e a mochila. Entregou o celular e pediu que deixassem a mochila uma vez que dentro só havia livros. Quando o pai foi buscá-lo encontrou-o ferido e em estado de choque.

Há anos que me pronuncio sobre situações semelhantes. Jovens e adultos são vítimas constantes naquele trecho. São inúmeros os assaltos que ali acontecem a qualquer hora do dia ou da noite. Moradores falam sobre pontos de drogas que existem nas proximidades (mais precisamente no Derba) onde os assaltantes trocam por drogas produtos dos roubos, os quais muitas vezes ainda nem terminamos de pagar.

Sabe, Neto, a marginalidade sempre existiu e sempre vai existir. Porém, entristece-me saber que toda esta violência foi praticada por dois jovens. Apesar de civilizadamente você chamá-los de atrasa lado, eu os chamo de vagabundos cujo dicionário de Cegalla descreve tão bem: “indivíduo não afeito ao trabalho; vadio, ocioso; reles, ordinário; de má qualidade”. Monstros criados por uma família despreparada, protegidos por leis injustas e que ameaçam uma sociedade despreparada.

Por sermos tementes a Deus, devemos agradecer não presenciar um ato deste. Imagine um pai ou uma mãe ver um filho sendo covardemente agredido por outros, cujos pais não sabem ou às vezes nem se importam em saber onde andam. É provável que sejamos capazes de atos absurdos movidos pelos instintos de proteção e revolta e ainda termos que responder processos por anos a fio.

Não critico aqui a competência da Polícia Militar. A corporação faz o que lhe cabe e que está dentro de suas possibilidades. Repudio a irresponsabilidade de famílias que, erroneamente, vêem em gestações mais uma forma de renda facilitada pelas “bolsas” oferecidas pelo governo. Questiono a falta de controle de natalidade em uma nação cujos pais (vivendo juntos ou não) desconhecem os valores que devem ser repassados aos seus filhos; oponho-me à transferência de obrigações que a família hoje impõe à escola e às novas leis que, movidas por teorias absurdas, tiram dos pais até o direito da palmada, enquadrando-a como violência.

Na minha concepção, violência, dentre as tão já conhecidas, é o ser humano viver refém de preocupações constantes quando vê um ente querido sair de casa e saber que o mesmo está exposto aos desajustes sociais. Violência é não poder dar um celular, um relógio, um boné ou um tênis aos nossos jovens, para podermos cobrar deles cumprimento de tempo, localização e proteção, já que tais objetos podem se transformar em um chamariz para pôr em risco sua vida. Enfim, é violar o direito do outro em prol da própria incompetência.

Agradeço o espaço e deixo claro que o ocorrido não despertou, apenas levou ao limite a insatisfação de mãe e educadora com a falta de valores que permeia grande parte de nossos jovens que não pediram para nascer. Cujo sistema e famílias vivem em busca de bodes expiatórios para colocar a própria culpa. Enquanto cada um não assumir os próprios erros e buscar reparações, viveremos no pessimismo de acreditar que no futuro seremos escravos dos que nasceram depois de nós.


Ivanize Lima
Professora
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