38. 804 razões elegeram Brasileiro para representar Senhor do Bonfim

Ao delegar a Carlos Brasileiro o mandato de deputado estadual, Senhor do Bonfim reassume uma posição política que no passado já lhe pertenceu. Mas, a conquista do momento não se resume em simples reposição de representação perdida. Colocada no painel da história social e política do município, essa vitória adquire significado e importância que devem ser observados.

É próprio que o momento inspire comemorações destacando em primeiro lugar a recuperação do mandato. Mas é bom constatar que o município sempre esteve entre os maiores colégios eleitorais do estado, situação bastante confortável para, pelo menos em tese, garantir a eleição de um representante à Assembléia. Esta obrigação não cumprida gerou o clamor. Tais verdades visíveis são as fontes de motivação para as celebrações pela presente vitória de Brasileiro. Se tomadas como premissas de análise, apontarão outros aspectos relevantes, positivos ou não, emergidos das circunstâncias conjunturais e políticas que prevaleceram no longo lapso de jejum de representação.

Nenhuma percepção superficial provaria, por exemplo, quais as causas que desmantelaram as articulações político-eleitorais que elegiam nossos deputados no passado. Mas os efeitos da desarmonia entre caciques, das vicissitudes sistêmicas, da sobreposição do particular ao público, da alienação de legítimos interesses do cidadão eleitor, do conseqüente descrédito de líderes, da inobservância ao que separa a ética do delito, da total ausência de controle social, inferioridade política da representação no parlamento, incompetência, omissão e do múltiplo de tudo isto – que terminaram por acumular carências de diversas ordens no objeto da administração de Senhor do Bonfim.

O município foi perdendo a flama do orgulho local até virar base predileta para o cultivo do voto pra fora. Enquanto caminhava para esse fundo do poço, novas frações sociais foram surgindo, reagindo e construindo alternativas para uma prática política oposta. Os anos 80 e 90 testemunharam o desenrolar dessa difícil empreitada, regada por agressões e ameaças de repressão, por um lado, porém sob o olhar atento de bonfinenses insatisfeitos e independentes. Foram estes que a pouco e pouco, de eleição em eleição foram se somando em força aos petistas originais.

Juntos, todos amarguravam profunda decepção com a condução da cidade. De ordinário, entrelaçados por ideologia, dependência, tradição e interesses pessoais – aqueles que detinham o poder de governar também nutriam um sentimento de decepção não muito diferente do nosso. Chegamos a ouvir da autoridade municipal, em evento público de inauguração do Central Shopping, em dezembro de 2000, que “Bonfim é uma cidade inadministrável”. A auto-estima do bonfinense em geral beirava a consciência aflitiva. Pois, é justamente esse valor de extrema importância para a vida comunitária e individual, reivindicado em qualquer localidade do mundo e naquele tempo em baixa, que precisamente hoje atinge o auge com a eleição de Brasileiro.

Pode-se inferir, com total acerto, que essa incidência de auto-estima não se detém. Ela é cara à cultura histórica formada no bonfinense desde suas raízes. Desde a presença de símbolos da erudição e da origem da Republica em seu chão, o orgulho da terra ainda reverencia José Gonçalves e Rui Barbosa na terrinha. Esses e outros signos correspondem a um contínuo progresso, e nunca a identificação com o que é atrasado e não-contemporâneo. Por conta disso, desde 2001 existem em Senhor do Bonfim valores governantes em correspondência com essa mentalidade.

Uma cadeira na Assembléia Legislativa, que objetivamente faz ressurgir o poder de barganha do município no estado, embute a capacidade política do município refletida no seu território e ainda a propaga para os diversos contextos regionais. Essa dimensão é apanhada e sentida pelo cidadão, não pelo espectro formal, como pode parecer, mas na materialização de políticas públicas para a educação, a saúde, a cultura, a habitação, a segurança, o bem-estar social. Tudo que o bonfinense viu evoluir nos últimos 12 anos em Senhor do Bonfim.

Eis a razão porque a cidade amanheceu nesta segunda-feira, 4 de outubro, contente, zuadenta, engalanada e sem sono pra recuperar a noite passada não dormida. É que havia uma representação parlamentar há muito tempo sonhada, idealizada, trabalhada e devendo chegar. Se chegasse não causaria surpresa. Mas ao chegar, irrompeu arrancando a fórceps toda aquela alegria entranhada no peito. E o bonfinense não parou mais de festejar.

Por Antonio Britto
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