Dezoito anos sem Gonzagão, o Rei do Baião

. . . Saudade inté que

assim é ruim . . .

Luiz Gonzaga do Nascimento é filho de Januário dos Santos e de Ana Batista de Jesus (Santana). Nasceu na Fazenda Caiçara, município de Exu/PE, no dia 13 de dezembro de 1912.

Certa vez... Januário, que era consertador de sanfonas e sanfoneiro também, pediu menino Gonzaga para ajudá-lo na afinação de um instrumento e percebeu que pra conserto e roça o menino não levava jeito, mas pra sanfonar... Daí então passou a levar o filho Gonzaga para se revezar com ele nos bailes. E foi a conta.

Gonzaga tinha 12 anos em 1924, quando o riacho do Brígida transbordou e encheu de água a casa de Januário. A família se mudou para a Fazenda Várzea Grande, no povoado de Araripe.

Sua primeira sanfona foi comprada com a ajuda do cel. Manoel Aires numa loja de Ouricuri/PE, em 1926. Nesse ano, dono de um fole, Gonzaga começou a tocar sem a companhia do pai e a se tornar um sanfoneiro profissional.

Aprendeu a ler e escrever ao participar de um grupo de escoteiros em Exu. Mas como precisava ajudar os pais na roça, teve que voltar para casa.

A iniciação sexual de Luiz Gonzaga foi com uma prostituta da região chamada “Maria dos Lajes”, o que logo lhe custou uma blenorragia, tratada pela mãe, Santana, com remédios caseiros.

Primeiro grande amor de Gonzaga, ele mesmo declarou, foi uma moça chamada Nazarena, que pertencia à família Olindo, branca e importante na cidade de Exu.



Deu zebra O pai da moça, seu Raimundo, quando soube do namoro ficou furioso. Disse que não queria sua filha namorando com um sanfoneirinho sem futuro e, ainda por cima, negro. Gonzaga ficou sabendo e num sábado de feira foi tirar satisfações com o velho. Tomou uma lapada de cana, comprou uma faca pequena e encarou seu Raimundo. Percebendo que Gonzaga estava meio bêbado, desconversou e contou o atrevimento do negrinho para Santana. Ao chegar em casa, Luiz tomou uma baita surra da mãe.

A surra doeu e Gonzaga resolveu sair de casa. Disse aos pais que ia tocar no interior do Ceará e, com a ajuda do tangedor de gado José de Elvira, foi s’imbora pro Crato. Chegando lá, separou-se do amigo, vendeu a sanfona e em julho de 1930 foi pra Fortaleza.

Gonzaga mentiu a idade A lei só permitia alistamento no Exército com 21 anos, ele faria 18 anos em dezembro, mas, como não exigiram a certidão, ele entrou no 23º Batalhão de Caçadores e já no mês seguinte (agosto) estava participando da Revolução de 30, no interior da Paraíba.

Tomaram-lhe a musa Em dezembro de 1931, o Exército transferiu Gonzaga para o Rio de Janeiro e em agosto de 1932 para Belo Horizonte, onde integrou o 12º Regimento de Infantaria. Aí ficou sabendo que Nazarena, sua paixão de Exu, havia se casado.

Corneta e “Bico de Aço” Em janeiro de 1933, Gonzaga passou em concurso para corneteiro. Adquiriu noções de harmonia, aprendeu a tocar corneta e foi elevado a tambor-corneteiro de 1ª classe e recebeu o apelido de Bico de Aço.

Violão e Caymmi Durante o serviço militar, Gonzaga aprendeu a tocar violão, mas não tomou gosto pelo instrumento. Em 1936 era ouvinte da Rádio Tupi e admirava um baiano que começava a fazer sucesso: Dorival Caymmi.

Sanfona de novo Ainda em 1936 conheceu um colega soldado que tinha uma sanfona e tomou gosto novamente pelo instrumento. Pediu a Carlos Alemão, fabricante de sanfonas, que lhe fizesse uma. Três meses depois recebeu a encomenda com 48 baixos.

O primeiro palco de verdade! Passou a tocar nas festas de Juiz de Fora e em 1937 foi para Ouro Fino. Nessa cidade um advogado de nome Raul Apocalipse, organizador de espetáculos chamou Gonzaga para tocar no clube Éden . Foi a primeira vez que o exuense cantou num palco de verdade. Tocava músicas de Almirante, Antenógenes Silva e Augusto Calheiros.

Novo endereço pro pé-de-serra Desde então, o seu nome ficou composto e conhecido como Luiz Gonzaga. Entrou na década de 1940 com a fama de sanfoneiro, cantador e intérprete dos melhores. Popularizou ritmos como o baião e os que são da família: como o xote, o xaxado e outros que antes moravam apenas nos pés-de-serras do Brasil rural.

A obra faz o ícone Nos anos 50, Luiz Gonzaga foi sucesso total. Nos anos 60 também. Nem o rock’n’roll abalou o prestígio de suas toadas, de sua sanfona, da sua voz e do dom musical de Luiz Gonzaga. Os anos 70 confirmaram a razão à velha percepção do pai Januário: o menino leva jeito pra sanfonar. E os anos 80 foram adiante: fizeram de Gonzagão um ícone nacional.

Internamento e quase-divórcio Em 1989, já bastante doente, Gonzaga ainda tinha na agenda vários shows para o São João daquele ano. No dia 21 de junho o velho Lua foi internado no Hospital Santa Joana, no Recife. No dia 16 de julho, a pedido da família, não aconteceu o divórcio entre Gonzaga e Helena, pedido por ele alegando maus-tratos.

A morte não mata o mito Em 2 de agosto de 1989 Luiz Gonzaga faleceu no Hospital Santa Joana. Dizem as enfermeiras que ele sentia tantas dores, que muitas vezes soltava gemidos que mais pareciam aboios, aquelas toadas cantadas pelos vaqueiros em tom de lamento. No seu enterro, a música mais cantada foi Nem se despediu de mim.
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