Condenados é conflito mórbido: “o outro no outro” – que o homem não quer ver, para não resolver

Na próxima sexta-feira (20), o artista bonfinense Marcos Cesário fará o pré-lançamento de Condenados uma de suas mais recentes produções, em Jaguarari. O autor nos adianta que a película terá uma platéia de “no máximo 20 pessoas”. Serão os primeiros a ter olho sobre o impacto que a película pode gerar. Vejamos.

Sem pensar, você vê na esquina o motorista invadir o sinal vermelho e atropelar. Vê e passa. Sem pensar, vê no matadouro o magarefe enfiar o punhal no pescoço do boi. Vê e passa.

Mas... depois dos cinco minutos diante do curta-metragem Condenados, de Marcos Cesário, é quase impossível ignorar barbáries antes triviais. Até aos 4,5 minutos, o autor registra no matadouro o clássico encontro de dois bichos. Como é costume (e costumes são atos impensados), não há o cartaz “Animal versus animal” para cada show. Deveria haver.

O encontro se dá entre seres que respiram, sentem e sofrem. Seres que têm o dom da luta pela sobrevivência. Suas espécies estão na lista de extinção e foram parceiras de entrada na arca de Noé. Mas o encontro é violento. Deveria haver cartaz. Na mão da espécie mais animalesca o martelo funciona como o juízo final: condena um crânio e sobre ele desce cruel. É bárbaro, insensível e frio. Um punho inumano crava a peixeira num coração que bate, batia. E é traiçoeiro, sanguinolento e chocante. Os que sabem, não querem ver... Passam.

Depois... Depois vêm os 30 segundos finais: a crônica de uma morte só unilateralmente anunciada foi perpetrada e o sangue já rolou. Vem à tela então a imagem de um pranto vertido das entranhas do animal vencido. Pranto pouco conhecido e comodamente ignorado, mas flagrado pela lente e pelo método da filmografia de Cesário.

Pranto nascido do pressentimento de que seria abatido? Pranto da dor física? Do pensamento? Do sentimento de impotência? Da surpresa de quem até há pouco recebia zelo, pasto, carinho? Ou pranto similar ao de Julio César pela traição do filho: “Até tu Brutus?”

Se nada disso for: por quê então? É deprimente matar animais? É crime derrubar uma árvore? Em que circunstância o homem é desnaturado? Para que servem os vegetais? Os prantos de Condenados ambientados em cinco dias de abril de 2008 no matadouro de Jaguarari têm a profundidade e a dimensão do martírio comum a todos nós. O último choca, fere, ofende e melindra. Basta que não estejamos entre aqueles que ainda vêem e passam.

Assessoria de Comunicação PMSB
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